quinta-feira, 30 de junho de 2011

Um campinense (queimadense) esquecido?

Por Josemir Camilo[1]

Este texto foi construído pelo professor Josemir Camilo. Professor de História que mais uma vez, em um dos seus textos, não nos deixa passar despercebida a importância de um dos homens que mais contribuiu para a formação intelectual da sociedade campinense e, consequentemente, para a formação do pólo tecnológico que hoje Campina destaca ao se destacar.

“Agora em abril, comemoraram-se 31 anos que partiu um Quixote, não de La Mancha, mas de Queimadas, de Campina, da Paraíba: José Lopes de Andrade. Parece que na História da FURNE/UEPB esqueceram do lado mais pobre dos dois homens que a criaram. Ficou Edvaldo do Ó, com todo o mérito, mas falta Lopes. Se um parece ser o homem das ideias, o outro não é só de ideias, mas de por no papel, de organizá-las e os dois juntos refletirem. Segundo o próprio Edvaldo, Raimundo Asfora criticava a falta de densidade dos escritos edvaldianos. Foi Lopes quem rabiscou quase todas as ideias básicas para se criar a Escola de Comércio de Campina, a Faculdade de Ciências Econômicas, a Fundação de Ciência e Tecnologia (é, Campina já teve uma!) e a estrutura do que conhecemos hoje como UEPB.

Não sei, mas me parece meio nebuloso este silenciamento sobre o sociólogo. Autodidata, e só neste aspecto de sociólogo, e não genericamente como parecem ter entendido outros. É que a formação acadêmica de Lopes foi incompleta e em vários cursos acadêmicos(Direito, no Recife; Geografia e História na Paraíba e no Rio (mas não dá o curso). Tejo, aqui, se refere a dados colhidos de uma entrevista que Lopes dera a jornalista Jaldete Soares. Mais dados foram retratados por seu admirador, William Tejo, no Prefácio a Uma Militância na imprensa, organizado por José Octávio e Ana Maria Gonsalves (1985). Seria, no entanto, reconhecido como sociólogo, logo por quem? Por Gilberto Freyre que prefaciou o seu livro Introdução à Sociologia das Secas, editado no Rio de Janeiro em 1947.

A história da FURNE/UEPB tem que ser resgatada também nos documentos produzidos por Lopes que acompanhou toda a briga para a federalização daquela entidade ou de suas partes como ocorreu com a de Medicina. Interesses conflitantes de políticos, de administradores das faculdades isoladas de Campina e as sediadas em Areia, por exemplo, deixaram de federalizar a FURNe. Foi nos anos 80 que deveria ter surgido a UFCG, como uma fusão do Campus II, da UFPB e o da FURNe. Eu mesmo cheguei a escrever artigos dando pitaco sobre isto, se não me engano, como embarquei no final dos anos 90 na mesma luta de emancipação do campus II em UFCG.

Há que se produzir uma memória destes batalhadores anônimos que deram suas vidas em prol do desenvolvimento econômico e cultural de Campina Grande, por que sem esta memória, dificilmente haverá história recente. Já estava eu a pensar numa visita à família, para ver o que tem de documentos de Lopes, para a história da FURNE, quando sou informado por sua filha (ex-aluna) que a viúva Letícia Camboim faleceu no começo deste ano. Nada mais justo, portanto, esta curta homenagem ao acadêmico Lopes de Andrade”.

José Lopes de Andrade, um queimadense, um sociólogo, um intelectual. Um grande homem a frente do seu tempo que com grandes idéias e ações contribuiu para a construção de Campina Grande.


Ver:  http://www.paraibaonline.com.br/coluna.php?id=53&nome=Um%20campinense%20(queimadense)%20esquecido?




[1] PhD em História pela UFPE, professor aposentado da UFPB e professor visitante da UEPB.

terça-feira, 28 de junho de 2011

AS FASES DA LUA


Oh lua! Formosa, perfeita e sempre nova
Caminhas tu, em passos crescentes,
Pelos brilhantes bosques resplandecentes
Através da escura noite que se renova

A cada momento me colocas à prova
De que és constante, em fases diferentes,
Com este teu jeito de ser eternamente
E com tua simplicidade que se aprova

És uma Nova que de formosa e Crescente
Em minguante, milagrosamente, se transforma
Por intermédio do mistério reluzente

De tua natureza, que não diz o que sente,
Mas que, Cheia – de beleza – se forma
Para a noite com brilho incandescente


José Marciano Monteiro
(20/01/2008)

UM SONETO CONTRA A FOME


Somos cúmplices de uma epidemia
Que corrói a alma da humanidade
Fala fome! Que tu és realidade
De um leucócito anêmico da paralisia

Tu vens e devoras com hipocrisia
Falta justiça, competência e verdade.
Na burguesia que sem fraternidade
Expande esta epidemia

A fome tem solução!
Falta amor, inteligência e educação.
Nessa sociedade desumana

Lutemos com garras e com normas
Para coibir estas formas que deformam
E degradam a vida rural e urbana

José Marciano Monteiro
11/10/99

sábado, 25 de junho de 2011

SAUDADE


Saudade, sentimento que torna o próximo distante
Que se chega quando o amado vai embora
Que se parte quando já não tem mais hora
Que se aproxima, como lembrança, a cada instante

Sensação que adquirida – constante
Faz das emoções vividas em outrora
Presentes nos momentos de agora
Pelos envolvidos em seus corações cortantes

É aquela que se chega à distância da pessoa amada
E a que se vai quando se aproxima da amada pessoa
Que, em outrora, se encontrava distanciada

E que, agora, mais próxima, como pessoa amada
Se sente, como ser humano, uma nova pessoa
Que, por saudade, é sempre relembrada

quinta-feira, 9 de junho de 2011

POLÍTICA: DISCUTÍVEL OU NÃO DISCUTÍVEL? EIS A QUESTÃO.

             Na linguagem e no meio popular criou-se um “jargão” de que Política, Futebol e Religião são temas indiscutíveis. Mas será que são mesmo temas que não se discute? E por que não se discutem? Aqui me deterei a discutir apenas o primeiro tema, tentando, assim, responder a essas questões colocadas.
Em toda e qualquer relação social que se estabelece entre indivíduos o fenômeno do poder está presente. Em outras palavras, o poder se encontra em toda e qualquer relação, desde a atitude do pai para com o filho pedindo-lhe que faça algo à atitude da namorada que não quer que o namorado vá a tal festa, até a decisão do governante ao tomar uma posição sobre se aumenta ou não o salário mínimo. Todas essas são decisões políticas sobre as quais estão prescritas a relação de quem obedece e de quem comanda. Atitudes em que, está presente o dominante e o dominado. Procedimentos, portanto, políticos.
A política, pensada dessa forma, está em toda e qualquer relação, desde a relação micro do pai para com o filho, da namorada para com o namorado, até a relação macro, do governante para com a sociedade. Dito isto, a política é discutível sim. E não apenas isso. A política é essencial para a própria existência humana, uma vez que o preço do feijão, do açúcar, da farinha depende de uma atitude política.
O que se tem percebido nestes discursos de hostilidade a política, é que os que falam que não gostam da política, que odeiam a política, que política não se discute, estão a confundir a dimensão da política com a dimensão da politicagem, deixando, assim, de perceber que a política se diferencia da politicagem, tanto no âmbito conceitual como prático. Ou seja, pensar em atitudes políticas do ponto de vista governamental, é pensar políticas para o coletivo, o bem administrar, a arte de governar, respeitando as regras da democracia, a transparência da res publica, a participação dos cidadãos, o direito a voz e a vez, em fim é governar com o povo para o povo, respeitando as regras institucionais e, consequentemente, as instituições. 
Contrariando esta perspectiva,  temos o comportamento politiqueira que se concretiza na politicagem, não respeitando os princípios da transparência e da participação democrática, inviabilizando políticas que visem o bem coletivo.
            Toda esta antipatia que se constrói em torno do fenômeno da política é, portanto, uma antipatia sobre o fenômeno da politicagem, surgindo, assim, uma verdadeira confusão na mente das pessoas, por não distinguirem o primeiro do segundo. Tornando-as em pessoas desacreditadas, com baixo nível de estima diante do fenômeno da política. Portanto, você que está terminando de ler esta breve reflexão sobre o fenôemno da política, e que tem esta visão de que a política não se discute, será que você não está confundindo-a com a politicagem? Pense nisto. Lembre-se que toda relação política é uma relação de poder. O seu pai, a sua mãe, o seu filho, você, seu esposo ou seu namorado, estão cotidianamente tomando decisões políticas, pois tomam ‘par-tido’, assumem posições diante dos fatos e acontecimentos cotidianos.

A VERDADEIRA RELIGIÃO


- SENHOR, vós que trazeis o amor.
para que eu tenha a salvação
diga-me o que preciso, pra receber vosso perdão
já que errei por ser um pecador.

- MEU FILHO, o perdão convém do arrependimento em vigor.
Encontrado na luz da religião
Na qual deixei os mandamentos com convicção.
- Mas que doutrina traz os ensinamentos, senhor?

Digo-vos, filho, “amai ao teu próximo como a ti mesmo”
Que encontrarás as doutrinas que cura os enfermos
E, aos irmãos, ajuda-os no momento de dor.

E crês, com o desenvolvimento da inocência,
Na sabedoria, no Deus – a existência
Da verdadeira religião que é o amor.

José Marciano Monteiro

quarta-feira, 8 de junho de 2011

SONETO



Estou lendo este livro docemente,
Assim como leio os olhos de minh’amada.
Que em sonhos a vejo calada
E neste livro a vejo em minha frente

Sei que é um pensamento diferente,
Surgindo, não sei de onde, talvez do nada.
E, que pairando em força reluzente,
Faz-me seguir, em versos, forma cristalizada.

É esta, porém, a imagem que me vem Dela.
Esquentando-me como se fosse uma vela
E que, em palavras claras, a vejo passar.

Sei que minha amada não é Clara nem Leila
Nem tampouco, Aparecida, Daniela ou Sheila.
Mas, sim, Kaline que a vejo brilhar.

(José Marciano Monteiro)

A BANALIZAÇÃO DA VIDA: ENTRE O “SER” E O “TER”


             A sociedade contemporânea tem se deparado com problemáticas que tem levado o homem a se indagar sobre princípios que norteiam o agir humano, princípios de condutas morais. A grande problemática que está dentro do campo da ética diz respeito à banalização da vida, a vulgaridade da vida, tornando-a e transformando-a em algo ordinário, corriqueiro, um “objeto”, do latim objectu, “expor”, algo que é manipulável que se expõe “exponere”, que se apresenta em exposição.
A vida tem se tornado, portanto, popularmente falando, algo “frio”, um objeto em que se apresenta para a humanidade que, paradoxalmente, tem se tornado desumana. É a era da imagem, é a sociedade da imagem na qual o “apare-ser” sobrepõe ao que é, o estético sobrepondo ao ético, o ter sobrepondo ao ser.
Todas estas sobreposições têm, na cotidianidade, agravado em problemas tais, que a vida perde o seu próprio sentido essencial e se transforma em seu sentido aparente, algo sem valor, des-sentido. Está ocorrendo, portanto, a banalização do que há de mais precioso na humanidade, a própria vida.
Quando o viver perde o seu sentido essencial em detrimento do sentido aparente, vê-se toda uma valorização do “ter” em detrimento do “ser”, ou seja, imbuídos de um espírito consumista de imagens, o viver torna-se, um viver da exposição, da aparência, da imagem que é transmitida. A vida, portanto, perde o seu sentido humanista e assume o sentido des-humano. Sentido este que é, paradoxalmente, a perda de sentido.
É, como já dito, se transforma na vida objectual, fria. Basta ligarmos o televisor nos telejornais. Cotidianamente são apresentadas imagens de seres humanos que por não terem, quando abordado por um assaltante, um real, é morto por este. A vida torna-se banal, sem sentido. A morte passa a ter sentido dentro da banalidade da vida. Uma filha, por exemplo, que planeja a própria morte dos pais com seu namorado, crianças, adolescentes que morrem sem ter o que comer, não por falta de alimentos no mundo, mas, por não terem acesso a este.
A morte, portanto, vai sendo encarada na naturalidade desses acontecimentos, tornando-se algo normal, uma criança que morre na favela, por exemplo, é como se fosse menos um, um humano encarado como objeto, ou seja, é a desumanização do humano, é como se esta criança não fosse o que é, porque para ela “ser”, ela precisa “ter” e como não tem, pouco importa o seu “ser humano”. Assim, ser-humano, nesta sociedade da imagem, é, antes de tudo, “ter” porque é a imagem que se apresenta e é quem, equivocadamente, tem definido, para muitos, o humano, e não o que ele é.
Este é um artigo para a reflexão sobre o humano e a humanidade, sobre o “ter” e o “ser”, ficando, assim, aberto para o aprofundamento por parte de você leitor que vive cotidianamente nesta sociedade em que a imagem se torna central.